É importante que o pescador venda seu peixe. Entretanto, ele não pode vendê-lo por gato, lebre, ou qualquer outra coisa que não seja o animal oferecido. Nessas eleições, a campanha política atingiu um nível absurdo de embate imagético. Os candidatos são vestidos conforme apura-se ser bem quisto junto ao público. Ao lado de Aécio Neves, os panfletos tentaram colocar Anastasia como um irmão gêmeo do ex-governador. Dilma, sabidamente mulher de posturas rígidas, ganhou face sorridente, amável. E o estafe de Serra tentou dar ao candidato tucano um carisma que é contrário à sua natureza. Até avatar em 3D o tucano ganhou.
Em nossa república presidencial, o poder ganha uma falsa personificação na figura dos presidentes. Votamos em nomes que, na verdade, trazem todo um direcionamento partidário, que governará de fato. A figura que aparece na urna eletrônica ao digitamos o número da legenda é só cara, a ponta do iceberg.
E os marketeiros sabem disso. Assim, apelam. Ao fim da campanha eleitoral, os candidatos já apareceram com tantas caras, expostas exaustivamente na mídia, que não conheceremos de fato o nosso futuro presidente.
Sem dúvida, o candidato mais maquiado do pleito eleitoral é José Serra. Porque ganhar eleição significa conquistar votos entre as classes mais maltratadas economicamente e o programa de governo tucano/ DEM não é favorável às massas. Ele agrada, em sua essência, os setores mais ricos da população, que tendem a enriquecer ainda mais em governos do PSDB. Agrada aos investidores de capital especulativo (aquelas aves de rapina à procura de mercados financeiros de lucro fácil) que há pouco estavam eufóricos com a possibilidade de virada serrista.
Afinal, o liberalismo defendido pela direita não interessa ao trabalhador cuja situação social irregular ficaria ainda mais exposta sem o auxílio do Estado. É preciso falsear. Aos populares, planos de construção de moradias, ensino técnico e geração de emprego insinuam uma bonança com a vitória de Serra. Mas essas promessas não superam a concretude do governo Lula e sua continuidade como melhor opção.
Não bastando a ocultação da verdadeira face de sua proposta de governo, a José Serra foram sobrepostas inúmeras máscaras. A de religioso, defensor da vida e da família, antiprivatizações, verdadeiro continuador do governo Lula... Máscaras inconsistentes com o “peixe” que oferecem. Como no caso da legalização do aborto: o político que se mostra contra o “crime” apoiou que a esposa o cometesse na juventude?
Agora, está exposta a manipulação em prol da vitimização do candidato, devido ao atentado à sua careca, cruelmente arranhada por uma bolinha de papel. Enjôo (coincidentemente sentido depois de uma ligação), necessidade de tomografia e atestado para 24 h de repouso. Turbinada pela imprensa direitista, a imagem de Serra é a de vítima dos inescrupulosos e agressivos petistas. Farsa digna do ex-goleiro chileno Rojas. Se a campanha durasse mais algumas semanas, não duvido que o candidato ainda subiria em palanque acompanhado de Tiririca, para cantar “Florentina”.
A verdade é que as propostas de governo da aliança PSDB/ DEM só são interessantes, de fato, à minoria que os financia – e a imprensa que levanta veladamente, mas cada vez mais escandalosamente, sua bandeira. Se fizessem uma campanha realmente transparente, não teriam chance, pois poucos trabalhadores votariam em candidato do patrão. Daí, o fenômeno #Serramilcaras, ocultando face realista assustadora desse governo de direita paulista que se pretende expandir ao país.
É importante que o pescador venda habilmente seu peixe. Só é injusto ele não alertar ao comprador que essa carne está infestada de espinhos.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
A farsa nas mil faces de José Serra
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Muito bom, Luiz
ResponderExcluirQuem dera todos tivessem essa visão política. Infelizmente, a maioria da população vota em rostos e em promessas, ao invés de partidos e planos de governos.
Não sabem que o presidente é "apenas" o maestro e empresta sua figura a toda uma equipe. (e a mídia e as escolas públicas não fazem e mínima questão de informar isso).
Por que será que, ao invés de 12 horas semanais de biologia, química e física, não se ensina também princípios de direito e economia nas escolas?
Abraço
Wellington Souza
Site Comunidade Literária Benfazeja