No dia seguinte às últimas eleições, o nome que mais repercutiu foi o de Tiririca, palhaço que se tornou hit nos anos 90 com a canção “Florentina”. Mostrando-se totalmente como piada, zombando da sua falta de preparo, o comediante foi o deputado federal mais votado no Brasil. Muitas foram as vozes indignadas com a enorme votação de Tiririca, chocadas com o despreparo e irresponsabilidade dos eleitores brasileiros. Nesse blog, porém, faremos uma leitura alternativa desse fenômeno.
Na Grécia, a democracia era direta, os cidadãos iam deliberar em praça pública pelos seus interesses. Mas a democracia era o regime político de Atenas, uma cidade-Estado, como fazer esse processo em países de imensa população como o Brasil? Diante dessa necessidade surge a democracia representativa, onde o cidadão escolhe aquele que irá representá-lo no poder político. Por que, afinal, uma pessoa escolhe um palhaço para representá-la na federação (a câmara dos deputados é isso, representação do poder do povo)?
Diz-se que foi voto de protesto. Para alguns poucos, sim, eu acredito. Mas não para a maioria. E não foi por achar o candidato capacitado que ele foi votado, pois este mesmo afirmava: “não sei o que um deputado federal faz, mas vota em mim que eu te conto”. Acredito que o voto em Tiririca foi por identificação. Os eleitores reconheciam aquele sujeito.
Os outros? O político virou um estereótipo. Rostos envelhecidos, cabelos com laquê, os inseparáveis ternos, os discursos vagos... Não é difícil encontrar uma centena de candidatos que se encaixem nessa discrição. Os políticos não são “gente nossa”, são, praticamente, uma categoria humana à parte.
Além disso, a política se esconde do povo. As votações de deputados e senadores estão longe de ser assunto difundido pela sociedade (alguém aí assiste a TV Câmara ou a TV Senado?) Os eleitos vão para sua “Disneylândia particular”, caso de Brasília e do Centro Administrativo, em Minas Gerais. Lá, brincam de trabalhar de terça à quinta, gozam de benefícios inimagináveis ao trabalhador comum e, no fim do ano, votam o seu aumento salarial. Deliberam sobre o país bem de longe, em seu universo próprio, atendendo aos interesses que nem sempre batem com o da grande população.
Lamentavelmente, a população não é politizada. Nem é criada para tal. Nas escolas, sequer aprendemos as particularidades e funções dos poderes políticos. A política só vira assunto debatido em larga escala nas eleições, quando toda sua complexidade é resumida na oposição de partidos – ou, no caso atual, em polêmicas religiosas, morais e outras pequenezas que passam longe de conter o real exercício do poder.
Mas o eleitor não é burro. E votar no Tiririca pode surgir como um meio de escolher uma alternativa dentre outras múmias engravatadas que só se tornam acessíveis em períodos eleitoreiros. E quem sabe o palhaço não volta e explica mesmo qual é a função do deputado federal?
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Política brasileira: pior do que tá, fica?
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Esse texto retratou tudo que eu penso. Faço de suas palavras as minhas - todas elas.
ResponderExcluirO cidadão brasileiro não conhece os politicos - muitas vezes nem a política. - Esse é o grande problema. Votarão em qualquer um que possam indetificar-se, mesmo sendo um ignorante assumido.
Não pode-se dizer nem que a questão é que os brasileiros não se interessam pela política, pois o problema é que a mídia controladora não nos deixa espaço para essas coisas uteis.