Está de volta, e com muita força, a pressão pela legalização da maconha. Debates legislativos, decisões judiciárias e mesmo declarações do ex-presidente FHC apimentaram a volta do tema. Porém, se há quatro décadas essa discussão estava no fronte da quebra de importantes paradigmas culturais, hoje parece mais uma denúncia do típico “engajamento” da classe média.
Nesse texto, usarei o termo que designa o supracitado grupo social ciente da dificuldade de definir o que ele representa. Durante algum tempo, influenciados pela ideologia marxista, intelectuais atacavam a classe média por sua estagnação. Ela seria composta por aqueles que não detêm os meios de produção, mas que, tampouco, constituem o proletariado, explorado em demasia pelo capital. Sua situação é cômoda, sem tomar partido na luta de classes. Sua meta é não empobrecer.A realidade, divertir-se com os luxos que consegue adquirir, cientes que dificilmente ascenderá à “primeira classe”. Ou seja, a classe média é uma enormidade, onde está você, eu, nosso médico, nossos professores... e por aí vai.
E as marchas pela legalização da cannabis sativa, as mobilizações nas redes sociais e mesmo as personalidades que levantam essa bandeira, entregam o jogo: se não for por questões que dizem respeito ao seu umbigo, a classe média não se mobiliza. E isso vale tanto para aquela juventude que evocou o preconceito aos nordestinos na vitória da Dilma no último pleito eleitoral, quanto aos “alternativos” de que tratamos aqui. Pois o discurso para legalizar a maconha é bonito, clama pelas liberdades individuais, sempre tão sacrificadas em uma sociedade com leis. Atacam as forças conservadoras, a polícia e a incompetência governamental (sempre eles!). Tudo para poder ascender o seu baseado, numa boa, na tranqüilidade.
Ok, não refuto os argumentos. Sempre defenderei o direito das pessoas fazerem consigo o que quiserem, contanto que não prejudiquem terceiros. Entretanto, acredito que a relevância dessa discussão deve ser relativizada. No que tange às drogas, me parece bem mais urgente discutir o avanço desenfreado do crack em território nacional. Mesmo as cidades mais isoladas têm sofrido com esse tóxico que, embora eclético, arrebanha nas classes populares sua legião de viciados. Pessoas que, de tão pouco ter, encontram no crack, em suprir sua necessidade dele, uma razão para existir. Em instantes, eles vêem sua humanidade alienada na soberana vontade de usar a droga. Para cada Charlie Sheen se drogando para farrear com suas três namoradas atrizes pornôs, são milhares os anônimos em alguma cracolândia, cujo prazer se limita a mínimos cinco minutos.
Houve um tempo em que aqueles que militavam pela maconha queriam mudar costumes, salvar a sociedade de suas prisões crônicas. Eles queriam tirar seus concidadãos de uma rotina de sofá e televisão/ trabalho. Hoje, eles é que são esses últimos. Só que, em vez de sofá e televisão, agora estão na cadeira do computador e com seus tablets no bolso.
Lutar pela legalização da maconha é uma questão de umbigo. A classe média gosta de cuidar do dela.
Acho que sobrou maconha nesse seu discurso sobre a classe média e seu egocentrismo. Mas, no que diz respeito à sua crítica dirigida aos alienados de sempre, está correta, porem sem nenhuma inovação comparada a milhares que ja foram escritas e publicadas durante toda a metade do sec passado.
ResponderExcluirA questão ATUAL da maconha é algo bem mais novo e de uma complexidade bem mais abrangente, pois envolve saúde, educação, interesses econômico, políticos, corrupção, prisões desnecessárias, internações que enriquecem clinicas "laranjas" de deputados com as intermináveis recaídas dos viciados ricos, crime organizado formando um poder paralelo em consequência dos 80% de seus clientes da droga, que dão preferencia a maconha, que, por não ser controlada é batizada e oferecida de maneira clandestina por qquer garoto de 15 anos, de tds as classes sociais, em sua sala de aula...E POR AÍ VAI.
Não sei se vc ja viu, mas vale a pena assistir o documentário "Quebrando o Tabu", do Fernando Grostein Andrade, que mostra depoimentos de chefes de estados e outras autoridades mundiais das áreas da política e da saúde, de usuários de drogas, cientistas, traficantes, e policiais civis e militares.
ResponderExcluirluis, continuando a reflexão a partir da categoria de análise "classes sociais" poderíamos supor, ou entender que as classes em luta, defendem seus próprios ideais. mesmo quando o proletariado dizia-se lutando pela "sociedade", a luta se dava no nível da seguinte pergunta: "qual sociedade que queremos?". logo, no limite, mesmo "lutando pela sociedade" o proletariado estaria lutando pelos seus interesses de uma dada sociedade.
ResponderExcluirnesse sentido, uma tal "classe média" lutaria pelos seus interesses, mesmo dizendo que isso seria interesse de todos. "olha, com a legalização a relação entre violência e drogas acaba", apesar de conclamar transformações sociais é uma frase de efeito social, com interesses localizados.
mas há que se diferenciar legalizar, de descriminalizar e ainda luta pelo direito de anunciar publicamente sua posição/pedir para mudar uma lei.
entretanto, a maconha não é somente uma questão de "classe média"! de qualquer forma, no que diz respeito às questões sociais dos chamados "tóxicos". nesse sentido algumas questões a respeito dessa luta podem tornar-se mesquinhas demais, mesmo... mas é uma ocasião muito interessante, socialmente falando. ela tem unido FHC, Soninha, e Tarso Genro, conservadores declarados e reservados, antropólogos, sociólogos e integrantes de outros grupos sociais.
só o fato de algumas pessoas que se declaram de esquerdas associarem-se à Soninha numa marcha é interessante!!
mas convenhamos, o debate ainda assim é elitizado. é uma questão de transformação da maconha em algo normal, comum, numa discussão científica, e não mais de segurança pública.
enquanto isso o crack, a cocaína continuam sendo demonizadas. mas uma é de uso, no imaginário, majoritário dos despossuídos e outra dos grandes possuidores. esse imaginário que cria essa falácia de divisão das drogas por posição social (há um índice muito grade das classes C, D, E consumidores de cocaina).
enfim... são coisas que pensei... talvez possamos pensar outras coisas caso não utilizemos a categoria de "classe"... mas deixemos para depois.
Lipão aqui.
ResponderExcluirEu vejo o que o Luís tá falando da seguinte maneira, muitas vezes um discurso, por mais correto que seja, fica impossível de apoiar quando dito por um grupo que você não gosta.
Não dizendo que o Luís disse isso, só como eu pensei depois.
É algo como, eu acredito que o governo não pode ter o monopólio da coerção física. Donos de fazendas gigantes também. Eu, mais por não querer concordar com eles, tendo a me irritar com a luta por um processo que na verdade eu apoio.
Eu não gosto de nenhum dos grupos que até hoje veio defender a liberalização da maconha, apesar de acreditar que deveria tudo ser legalizado.
Inclusive, meu maior sonho é que liberem logo a maconha, só para ela ser proibida em seguida de ser utilizada em locais fechados.
Mas o fato é que, a Classe Média irrita. É difícil concordar com ela, principalmente quando se vem dela. É igual concordar com o seu pai quando você é adolescente, é impossível. Eu sou cria da classe média, e como toda boa cria eu luto para me distanciar o máximo possível dela e de seus ideais. Aí quando ela chega com uma coisa que eu concordo rola aquele "e agora?"
Mas também, é bom lembrar que, ao passo que eu concordo com o Barrão que toda "classe" pensa sim nos seus interesses. Tem que se colocar a questão de que, quanto menos você tem, e quanto maior sua "classe" é, mas sentido esses interesses terão. Uma coisa é colocar um cara rico lutando por menos impostos para empresas. Eu concordo com isso. Acho que tem que ter menos impostos para tudo. Mas sinto muito mais empatia por uma cacetada de gente lutando por ter salários justos, ou escola de qualidade, etc.
Ótimo texto.
ResponderExcluirPrezados, agradeço a atenção aqui. A intenção do texto era provocar e fico feliz que isso tenha ocorrido.
ResponderExcluirO calcanhar que eu queria acertar era: mesmo aqueles que se escondem por traz de óculos com aros grossos e se sentem "alternativos" ainda agem classe média. Logo, se toda "classe" luta por seus interesses, como foi bem reforçado, então é por aí mesmo.
Acho importante que se discuta a legalização da maconha - sou a favor dela, embora acredite que alguns dos argumentos mobilizados (tratamento público, combate ao tráfico) sejam frágeis. Mas me parece que, em se tratando de drogas, o que é bem mais urgente é a questão do crack. É incômodo pensar na devastação que esse derivado da coca provoca. Digo isso por ver de perto, no bairro de onde vim. Perto disso, a legalização da maconha parece futilidade.