Uma visita a um hospital pode ser um importante meio para destruir qualquer vestígio que se tenha de ego. E nem precisa ser um hospital público. Fica-se lá, por horas, esperando ser atendido. E quando isso acontece, algum sujeito, às vezes com a pouca paciência de quem está ali cumprindo período de residência, não exita em dar o diagnóstico: virose. Ou algo do tipo. E ainda querem que nós o chamemos de “doutor”.
Outra cena: você é um atendente no comércio. Fica ali, tentando vender suas mercadorias para ganhar comissões que ajudem a, no fim do mês, ter um vencimento digno. Aí, por algum erro que não diz respeito a você, algum produto dá problema. Chega o cliente para reclamar e você argumenta de acordo com as normas da loja. Então, o indivíduo sentencia: eu sou advogado, conheço de leis, você TEM que fazer o que estou dizendo. Timidamente, você obedece. Ah, esses sujeitos também querem ser chamados de “doutores”.
Por fim, uma última cena. Você é professor, trabalha com adolescentes no ensino público. Esforça-se para cumprir o cronograma, uma tarefa árdua. Segue as normas que seu patrão, o Estado, manda. No fim do ano, precisa avaliar seus alunos, aprovar aqueles que apreenderam o mínimo de conteúdo. E um daqueles que não o fizeram chega para você e diz: “se eu não passar de ano, quebro a sua cara!” Na melhor das hipóteses, nessa cena, você será chamado de “fessô”. Quando não for por algum termo não reproduzível aqui.
As diferenças entre esses indivíduos extrapolam o nome como são chamados. Passam pelos concursos públicos, que pagam, naturalmente, até cinco vezes mais para os dois primeiros do que o último profissional citado. O status também é diferente, toda família quer ter um “doutor”, mas certamente não um “doutor em educação”. Mas, antes disso, deveria prevalecer a semelhança: os três são graduados e desempenham funções, no limite, com a mesma importância. Pois se alguém pensa que o trabalho braçal de um cirurgião ou o domínio da retórica jurídica vale mais do que a difusão de cultura, eu sugeriria pensar como a sua vida seria mais difícil sem nenhuma instrução.
Mas, infelizmente, nossa sociedade gosta de práticas sado-masoquistas. Tem essas camadas sociais que adoram arrotar soberba, violentando os outros com o valor que pensam ter. E muitas vezes formaram em faculdades de esquina, beberam boa parte do curso e, como profissionais, só irão perpetuar seus preconceitos de classe como “contribuição” para a humanidade. Por outro lado, existem aqueles que gostam de estar por baixo, de sofrer as humilhações e de ter pena de si mesmo. Se os professores se valorizassem mais, saberiam de seu poder e não aceitariam seu lugar de “coitados” da sociedade.
Nada é mais repugnante do que tomar como naturais esses tipos de desigualdades, que no final, são somente forjadas. E, numa boa, quem quiser ser chamado de doutor por mim, precisa ter doutorado. Beleza?
Outra cena: você é um atendente no comércio. Fica ali, tentando vender suas mercadorias para ganhar comissões que ajudem a, no fim do mês, ter um vencimento digno. Aí, por algum erro que não diz respeito a você, algum produto dá problema. Chega o cliente para reclamar e você argumenta de acordo com as normas da loja. Então, o indivíduo sentencia: eu sou advogado, conheço de leis, você TEM que fazer o que estou dizendo. Timidamente, você obedece. Ah, esses sujeitos também querem ser chamados de “doutores”.
Por fim, uma última cena. Você é professor, trabalha com adolescentes no ensino público. Esforça-se para cumprir o cronograma, uma tarefa árdua. Segue as normas que seu patrão, o Estado, manda. No fim do ano, precisa avaliar seus alunos, aprovar aqueles que apreenderam o mínimo de conteúdo. E um daqueles que não o fizeram chega para você e diz: “se eu não passar de ano, quebro a sua cara!” Na melhor das hipóteses, nessa cena, você será chamado de “fessô”. Quando não for por algum termo não reproduzível aqui.
As diferenças entre esses indivíduos extrapolam o nome como são chamados. Passam pelos concursos públicos, que pagam, naturalmente, até cinco vezes mais para os dois primeiros do que o último profissional citado. O status também é diferente, toda família quer ter um “doutor”, mas certamente não um “doutor em educação”. Mas, antes disso, deveria prevalecer a semelhança: os três são graduados e desempenham funções, no limite, com a mesma importância. Pois se alguém pensa que o trabalho braçal de um cirurgião ou o domínio da retórica jurídica vale mais do que a difusão de cultura, eu sugeriria pensar como a sua vida seria mais difícil sem nenhuma instrução.
Mas, infelizmente, nossa sociedade gosta de práticas sado-masoquistas. Tem essas camadas sociais que adoram arrotar soberba, violentando os outros com o valor que pensam ter. E muitas vezes formaram em faculdades de esquina, beberam boa parte do curso e, como profissionais, só irão perpetuar seus preconceitos de classe como “contribuição” para a humanidade. Por outro lado, existem aqueles que gostam de estar por baixo, de sofrer as humilhações e de ter pena de si mesmo. Se os professores se valorizassem mais, saberiam de seu poder e não aceitariam seu lugar de “coitados” da sociedade.
Nada é mais repugnante do que tomar como naturais esses tipos de desigualdades, que no final, são somente forjadas. E, numa boa, quem quiser ser chamado de doutor por mim, precisa ter doutorado. Beleza?
O hospital retira, principalmente dos pobre, toda a condição humana e o vestígio de dignidade que ainda insistem em conservar. Esperar horas, passando mal e ser olhado de cima pra baixo, e ainda receber um diagnóstico que até uma criança daria é triste e humilhante.
ResponderExcluircorrigindo: dos pobres... HAUhaUhaU
ResponderExcluirMuita verdade que você falou. A desigualdade existe, e é criada pela sociedade. Muita coisa está fora do nosso alcance(em termos), como dar dinheiro e comida, mas muito da desigualdade está baseada na nossa cultura, na educação e na socialização das pessoas. Nesse contexto, acredito que a tarefa dos professores seja talvez a mais importante, pois à eles cabe a tarefa de criar mentes pensantes com o discernimento necessário pra distinguir o certo do errado, e no melhor dos casos, não só distinguir, mas apoiar o certo e se opor ao errado.
ResponderExcluirÓtimo texto! =)
O texto é ótimo e me lembra situações que passei. Quando estava no ensino médio, tinha um colega que não acertava nem o próprio nome nas provas, e quando chegou o final do ano, a unica solução que ele encontrou foi ameaçar uma das professores, que pediu licença e até hoje está tomando remédios antidepressivos...
ResponderExcluirEu fico indignada com a situação atual... As pessoas estão retrocedendo, não estão seguindo nenhuma lógica e a única pergunta que resta é: Se continuar assim, o que vai ser do futuro?
Linda critica. São essas 'pequenas' coisas aos olhos do governo que degrada o posicionamento do país, temos que ter igualdade e isso tem que mudar primeiramente na mente de nós. Os humanos.
ResponderExcluirE muito obrigada pela sua visita. Ela é realmente muito significativa para mim.